Saúde LGBTQI+
Pela saúde LGBTQI+ ciência e poder público dialogam na UFPA Braganca
“Cheguem mais perto, vamos falar de sexo…” anunciou o Prof. Dr. José Sena Filho na última sexta-feira, no auditório do Campus UFPA Bragança. Assim teve início a apresentação dos resultados de sua pesquisa na Roda de Conversa intitulada “Letramento em cuidados da saúde sexual”, provocando o debate entre os presentes e a própria Secretaria de Saúde de Bragança representada pela coordenadora do Centro de Testagem e Aconselhamento do município, Enfermeira Talita Risuenho. Também foram convidadas ao palco integrantes do coletivo Cabokétykas, Pedro Olaia e Hevelyn Marcus, requintadamente montadas após a oficina de montação que ofertaram.
A tese do professor Sena apontou a vulnerabilidade em saúde vivenciada pela população LGBTI+ na região dos Caetés, nordeste paraense, indicando aspectos estruturais que colaboram para o silenciamento e precarização das demandas em saúde sexual dessa comunidade. De outro modo, enfermeira Talita apresentou as medidas que têm sido tomadas pela Secretaria de Saúde para melhoria do atendimento, como a descentralização dos serviços de testagem (que estão disponíveis no CTA e em postos de saúde) e a oferta dos medicamentos de prevenção ao HIV, o PEP (que deve ser tomado após a exposição ao risco de contaminação pelo vírus) e o PREP (que é tomado antes da exposição). Todos os serviços estão disponíveis diariamente. Adolescentes a partir de 16 anos não necessitam de acompanhante.
Mas, conforme destacou o mediador da conversa Prof. Dr. Érico Muniz, não é porque um espaço está aberto e é de graça, que as pessoas acessam. Existem elementos sociais e culturais, permeados pelo preconceito e estigmatização que impedem a realização democrática do acesso a ações de saúde, educação ou qualquer outro serviço público. Talita Risuenho, que também é mestranda do Programa Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA/UFPA), apresentou ainda um dado muito importante: ao contrário dos estigmas e preconceitos LGBTfóbicos, a maioria da população bragantina que convive com o vírus do HIV é de homens heterosexuais.
A questão da educação sexual não preconceituosa nas escolas foi levantada e se apresentando como a drag Sophia, Pedro Olaia, que é professor da educação básica relatou como é difícil o rompimento do preconceito para inclusão da temática junto aos alunos. Presente na platéia, a professora do PPLSA Sandra Bastos destacou a necessidade de inclusão do tema nos currículos escolares como forma de apoiar e estimular as ações até então dependentes exclusivamente do interesse e empenho de cada professor individualmente.
Na platéia também estavam presentes mães que expuseram suas preocupações e Hevelyn, do coletivo Cabokétykas, pôde falar do coletivo Mães do Arco-iris, que atua pela garantia de direitos da comunidade LGBTI+ apoiando pessoas que por sua sexualidade ou identidade de gênero sejam alvo de preconceito e violação de direitos e acolhendo também familiares que precisem de orientação e amparo.
O evento foi promovido em parceria com o PPLSA @pplsaoficial.
A tese citada "Corpos dissidentes e biopolítica na Amazônia atlântica: disputas metapragmáticas no cuidado em saúde" está disponível no link: https://poslaplicada.letras.ufrj.br/pt/teses-de-2020-ate-2017/
Link para artigo referente a tese:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8661250
Fotos: Marquinho (www.fotografomarquinho.com)